quinta-feira, 27 de novembro de 2008

...

Rogo o lapidário do silêncio o talhe na boca do tempo estrepitante do em-si!
Na boca das pedras que ainda clamariam!
E fôssemos surdos ao tilintar dos astros e dos grilos da muda noite aberta...

O eco no pó do frenético tatalar das existências tombadas,
O átomo do pensamento congelado...

A beleza da flor é perfumada
Porque ela ouve o seu silêncio
No úmido interior de suas pétalas invólucro
Ela não ouve o ruído insuportável da existência!
E fôssemos, não a corola de cores vivas ao sol,
Mas as raízes da mesma flor que enfeita o mundo!

Assim nos amaríamos,
Como no sossego dos teus olhos.
Eu te contemplo e me calo
E peço teu silêncio...
A tua boca em sacrifício no júbilo do pó dos crucifixos,
Das paredes, dos peitos e dos templos!
A tua puta e as pétalas do outono
Na fogueira negra do silêncio!
O sal da terra, o teu suor;
As minhocas são minha fantasia!

Eu queria que todas as vozes se calassem!
E só, você me ouvisse.
Se fôssemos indiferentes ao tilintar dos astros
Ao ruído insuportável da existência,
Então seríamos um para o outro
Eu queria que você ouvisse o teu silêncio
E o teu silêncio me dizia que íamos amar...
Eu, no ar, solfejava para mim mesmo
No rabo do cometa que em você atinge Vênus
Maquiada de pó de estrelas e suas eternas sombras.
Eu cavalgo no rabo do cometa sem governo do destino ou do acaso.
No vago perverso dos teus confusos olhos
Onde o nada tem a cor aqui de dentro
Dos olhos cerrados, secos, esturricados.
Vênus grita quando explode e nada faz sentido,
Como antes do primeiro grão de areia atravessar
O estreito beco do tempo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

“Yo tengo la percepción del filósofo que oyó la música de los astros”

Esta frese aparece em um conto de Rubén Darío, representante e precursor do Modernismo Hispano-americano. Bem, apesar de toda a fantasia, à moda dos contos de fada, do relato, recomendo. O apesar é também porque o que mais me chamou a atenção em dois contos que li, do referido autor, para um trabalho acadêmico foi justamente essa frase, que não se relaciona com o geral do conto. Amei-a assim mesmo. Não sei se tenho tal percepção, mas gostaria. Como é essa música? De silêncio, de puro silêncio eterno. Tento ouvi-la todas as noites, mas caio na imensidão do silêncio que nada no vazio. Essa música quando ouvida, para mim, não passa de um zumbido estranho, um tic tac sem compasso, que pode durar uma noite ou uma vida. Mas é olhando para o céu, tentando ouvir essa música que nos encontramos. Os hispanos e os astros têm uma relação milenar que não conhecemos muito bem, vide os maias e Jorge Drexler na música La edad del cielo. Ontem conversávamos na aula sobre a angústia existencial também presente em uma fase do Modernismo Hispano-americano. Influenciados pelo simbolismo francês, ou pelos franceses de uma maneira quase geral, os modernistas daí gritavam a pergunta que muitos evitam com medo do silêncio. O que é o silêncio do ventre sagrado das mães? É o silêncio de que não nos lembramos, um silêncio negro, como o silêncio da noite. Não nos lembramos nem de tal silêncio nem da dor do nascimento, que deve ser semelhante à dor da morte. A dor de irmos ao desconhecido. Ora, a dor não precisa de linguagem para ser sentida. Digo isto apenas para antecipar uma resposta a um improvável contra-argumento piagetiano, para não parecer idiota ao supor angústia num feto, pois a dor a que sempre me refiro é sinônimo de agonia. Ao mesmo tempo para iniciar o argumento de que a dor angustiante da pergunta que nos fazemos, mesmo inconscientemente, é inerente à vida. A linguagem, a bem da verdade, é uma dor a mais! Pra que tanta dor? Já não bastam as tragédias naturais?! É ou não uma grande sinfonia sem princípio ou fim? É o alfa e o ômega que se pretendeu Deus. É Deus! Por que olhar para tão longe para refletir sobre algo que está também no que não podemos ver, no átomo? Podemos ver os astros? Somos astros, somos oni­, como o quis ser Álvaro de Campos em suas odes, que tento improficuamente imitar. O filósofo na ponta do pelo, o prisioneiro liberto que vê além da sombra, o profeta, o mendigo, eu e as formigas, olhamos para o céu! O céu aqui considerado como tudo o que está acima das nossas cabeças. Não se trata de entender simplesmente, porque isto de nada adiantaria; a vida perderia seu sentido ignorado, que o sentido da vida é ignorar seu sentido para viver. E Deus é o Silêncio!

sábado, 1 de novembro de 2008

Pergunta

Onde está a Verdade de todas as coisas?
Dos átomos, das estrelas , das cores e sentidos
Que fremem num pulsar coruscante,
Constante num tempo de crestas ocas
(Vazios em que o badalar das torres,
Dos ponteiros e dos bits é irrelevante!)?

O Ser de todas as coisas que preexistiram
À eternidade foge-me nas unhas, nos ipês
No medo borgiano de girar sendo eu
E todas as vaidades das Letras,
Das bibliotecas queimadas e por queimar!

Eu consciente sigo a questionar-me onde estará!
Esta vagabunda linguagem, há pouco ignorada,
Soa-me fracamente em imagens etruscas quando oníricas,
Vagalume no fim do túnel da minha pergunta.
Ela não se (me) basta no tempo que conhecemos
Porque apodrece nos livros que nunca lemos.
Onde estará?

Se não está em mim, por que me foi permitido imaginá-la?

Volto aos meus dias de árvores e cabanas
E me pergunto por que não perguntava então!
O Sol era apenas a luz de todos os dias,
Nunca se acabaria...
Hoje me volto a ele como a uma religião
Exterminada pelos europeus no século XV!

Digo loucamente que a pergunta é só minha, pois só a ela tenho!

Verto a cada Sol o sangue de Paulo,
Porque não de Cristo que infelizmente não morreu
Nem ressuscitou!
(Isto porque o queria mudo por mais tempo!)

Se me alegro, talvez, porque o solo levemente crestado pelo Sol,
Pelas quimbas,
Dá-nos um verde intenso,
Depois de cem dias de sequidão na pergunta cerradina!
Porque a flor nunca cessa
Na Terra e no mar de estrelas!
Porque nela descanso daqui a zilhões de anos
É que choro e grito a minha pergunta!
Onde estará?