terça-feira, 25 de novembro de 2008

“Yo tengo la percepción del filósofo que oyó la música de los astros”

Esta frese aparece em um conto de Rubén Darío, representante e precursor do Modernismo Hispano-americano. Bem, apesar de toda a fantasia, à moda dos contos de fada, do relato, recomendo. O apesar é também porque o que mais me chamou a atenção em dois contos que li, do referido autor, para um trabalho acadêmico foi justamente essa frase, que não se relaciona com o geral do conto. Amei-a assim mesmo. Não sei se tenho tal percepção, mas gostaria. Como é essa música? De silêncio, de puro silêncio eterno. Tento ouvi-la todas as noites, mas caio na imensidão do silêncio que nada no vazio. Essa música quando ouvida, para mim, não passa de um zumbido estranho, um tic tac sem compasso, que pode durar uma noite ou uma vida. Mas é olhando para o céu, tentando ouvir essa música que nos encontramos. Os hispanos e os astros têm uma relação milenar que não conhecemos muito bem, vide os maias e Jorge Drexler na música La edad del cielo. Ontem conversávamos na aula sobre a angústia existencial também presente em uma fase do Modernismo Hispano-americano. Influenciados pelo simbolismo francês, ou pelos franceses de uma maneira quase geral, os modernistas daí gritavam a pergunta que muitos evitam com medo do silêncio. O que é o silêncio do ventre sagrado das mães? É o silêncio de que não nos lembramos, um silêncio negro, como o silêncio da noite. Não nos lembramos nem de tal silêncio nem da dor do nascimento, que deve ser semelhante à dor da morte. A dor de irmos ao desconhecido. Ora, a dor não precisa de linguagem para ser sentida. Digo isto apenas para antecipar uma resposta a um improvável contra-argumento piagetiano, para não parecer idiota ao supor angústia num feto, pois a dor a que sempre me refiro é sinônimo de agonia. Ao mesmo tempo para iniciar o argumento de que a dor angustiante da pergunta que nos fazemos, mesmo inconscientemente, é inerente à vida. A linguagem, a bem da verdade, é uma dor a mais! Pra que tanta dor? Já não bastam as tragédias naturais?! É ou não uma grande sinfonia sem princípio ou fim? É o alfa e o ômega que se pretendeu Deus. É Deus! Por que olhar para tão longe para refletir sobre algo que está também no que não podemos ver, no átomo? Podemos ver os astros? Somos astros, somos oni­, como o quis ser Álvaro de Campos em suas odes, que tento improficuamente imitar. O filósofo na ponta do pelo, o prisioneiro liberto que vê além da sombra, o profeta, o mendigo, eu e as formigas, olhamos para o céu! O céu aqui considerado como tudo o que está acima das nossas cabeças. Não se trata de entender simplesmente, porque isto de nada adiantaria; a vida perderia seu sentido ignorado, que o sentido da vida é ignorar seu sentido para viver. E Deus é o Silêncio!

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