domingo, 27 de novembro de 2011

Procurava um adjetivo para associar a minha vida, porém cada verso sobre mim é uma canção que o fogo queimou sobre um piano, uma nota escrita em um guardanapo de lanchonete de quinta, é uma dor faminta, um desespero sem voz ou verbo, é, sim, um acerbo gosto de madrugada sem fim, um ermo, uma gruta de marfim, um jardim. A minha vida é assim: pura felicidade!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Zanzo louco como um cachorro rouco
a ladrar de madrugada.
Onde está o amor que Sara?
Procuro as pedras que dizem de mim
e sentem, assim, feito fagulhas de passaredo no céu,
um rochedo, um solo firme em que pisar meus pés.
Mas, amigo, até ao cão que grita incessantemente na alta calada
falta a voz, essa foz que jorra pra derramar sua saudade
e dar na rocha uma facada:
o grande rio que escorre alimentado por igarapés,
o nada-cós que nos rasga e une ansiedade.
E o cão pouco sonha homem o seu latir sonoro,
inventa rimas de ardor canoro.
Um grito, eu choro.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

POEMA AO FRUTO DO MAR
POEMA AMAR

Se o melhor fruto do mar é a vida
então quero minha líquida mãe para
afagar-me os pés cansados
A alma, que se dane a alma
que sentir só quer

Água mãe, fruto mar
bem-me-quer
Leva-me, terra, para o seu abrigo intransponível,
para o seu eterno quedar
e apodrecer e que a água
me lave o mar,
me leve amar, leve,
como o orvalho
na folha sadia
de primavera

Mãe, leva-me para o
mar porque lá quedar
SEPITERNAMENTE

sábado, 26 de fevereiro de 2011

se me esqueço, se não me lembra, se apago o pensamento de ser novo quando esfrego os olhos ao acordar? não me esqueço, não apago, apenas adio. ensaio pensar e não ser como se fosse possível; ensaio sonhar e não ser como se fosse possível; ensaio o impossível. então minha vida é tinta azul.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ORAÇÃO ONÍRICA

sou uma pluma que se soltou
das negras asas de uma águia
no mais alto da mais alta montanha
e deslizou nas macias asas dos ventos
até pousar na superfície do rio
que corre suave no mais profundo do vale

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

DANÇA DA MORTE

Não sabemos!

O desconhecido nos assusta e encanta

Não sabemos o ritmo desta dança

Mas estamos a valsar

Eu vou como quem diz: existe vida após a morte?

Entretanto, agora eu sinto o peito arfar

Se já quase morri afogado à beira-mar,

A sensação é de dançar

Freneticamente sobre um rio congelado

Quando o sol nos desafia

Quando nos levar

Ou ele leva ou mar

Valse comigo sobre o gelo!

Ou até nossos corpos quentes

Tornarem as águas correntes

Para nos acorrentar

Existe vida após amar?

Ou tudo começa quando te ouço falar?

Quando o fogo puericida nos laçar com sua chama ardente

Rasgando como arquecida a lembrança da paixão demente

Eu vou dançar e me esquecer

Ou andar sobre as águas, morrer...

Dançar e morrer.

Valsar ou morrer,

Amar, morrer.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mário Quintana

Lá, onde tudo se vê, afora eu,
Está o poeta na poeira do livro roto
O jornal que suas mãos macias
E flácidas manusearam
Noticia um assassinato
Lá, o poeta se vê e se esconde
Para não se assustar
O espelho em que se viu,
Embaçado como meus olhos
Que espreitam sua memória,
Reflete o meu anseio
De haver estado com ele
A beber chá de alecrim
Ele gosta?
Sua cama, sua lixeira
Sob a mesa de madeira maciça
Guardam segredos lúcidos que o poeta
Não ousou dizer

Um dia, quando eu morrer,
Quero que me veja sorrir de
Sua senilidade sem tamanho,
De seus olhos pertinazes,
De sua eternidade

Quando morrer, serei
Simples como um poeta morto
No seu quarto vazio de tudo,
Exceto de si mesmo