quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Rio das Horas

Corre o rio das horas
no verde prado da noite.
O poeta sonha o divino
com as mãos estendidas às pedras
que deve lapidar.
Mas poeta não é poeta,
o que faz é apenas tornar-se.

No rio das horas navega o não-poeta
como se fosse balsa ou folha morta.

O poeta talha uma palavra que seja amor
no remo de navegar
mas não ouvem de lá.
Passa a margem indiferente
sonhando o dia de aportar.
Não leva o poeta uma caneta,
uma caneca ou flor na lapela
ele é de sonhar.
Corre o rio das horas
e o poeta não se agarra a galhos secos...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

07:37

Mas ainda não é dia.
A névoa se dispersa em toda a cidade e permanece nos meus pensamentos.
Os urubus procuram os ratos para comer e as crianças vão à escola; o dia não começou.
O dia começa quando vemos que somos livres.
Então uma aurora perfuma a manhã em que nos levantamos para criar.
Deixo o coração acelerar, a virtude do sangue é fluir.
Melhor pulsar com as pernas agitadas que repousar na sarjeta dos condenados.

07:47

A Manuel Bandeira

quarta-feira, 17 de junho de 2009

uma gota

Deixo que o vento leve a saudade
também a tristeza mais tarde
é aquela da manhã em que o vento não veio.
Deixo que a flor me negue sua cor
deixo aos sublimes a lira
aos medíocres a dor.

Meu desleixo com o tempo
é o eixo em que gira o torpor...
Oh, mananciais do mundo inteiro,
águas cristalinas dos penhascos todos,
onde encontrar o vigor da palavra
que é firme,
do verso que é cor?

Por hora, afogo-me no manancial
de areia do deserto da minha vida...

domingo, 31 de maio de 2009

...

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Onde está a liberdade que me vazou os olhos e viu o meu interior?
Onde, oh divina natureza, ficou o meu eu a procurar
o ralo por onde desceu minha alegria?
Foi naquele dia
em que o mar revolto rompeu aquelas rochas
e o vento sedimentou estas raízes.
Quero a inocência outra vez, pensar em borboletas a mancharem-se de sol e de lua,
quero cortar a rua sem medo.
O meu ser vazou por esta quase chuva de outono, ela foi voando.
Oh folhas mortas úmidas pela chuvizna quase vinda, enterrem minha dor!
Deite sua mão sobre minha angústia,
eu quero ver a emersão do mundo na paz do silêncio infinito, deusa corcunda.
Dê-me a sombra para um dia de calor,
sua fonte escondida para a sede mortal,
seu fruto sagrado quando a fome avassalar minha ferida.
Vem noite, a liberdade nunca vem!
Mãos fracas anciãs reparam um jardim
e a liberdade nunca veio.
Não veio como veio o vento a soprar-me segredos de chuva leve
e noite morna.
Quero a aurora de todas as flores na minha mão,
mas a liberdade não veio.





Embargo



UnB, 31 de maio de 2009.
14: 07

domingo, 24 de maio de 2009

Rimas Pobres...

As nuvens cobrem todo o céu
e eu as inalaria em apenas um suspiro.
Você é a água, as estrelas, é mais!
Ah, amiga adormecida na minha dor,
na minha saudade da esperança e do mais,
vivamos os segundos um a um
como calangos sagrados da seca
cobras gigantes famintas de homens no ventre.
Sejamos entre o segundo e a noite na superfície do mundo!
Cheguemos ao fundo!
Encontremos lá a beleza da tua flor
na terra inútil do meu peito.
Vem para minha noite que dela a Lua
é tão bela quanto a sua flor
que rima com a minha dor!
E mais que a Lua,
lá haverá a explosão tímida do seu olhar,
pedra preciosa sem receio além-Atlântico
além-mar!
Vamos amar a sua flor, a minha dor,
a minha Lua, o nosso mar...
Brindemos com a chuva que não vem
o meu suspiro o teu perfume!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

...

As horas vão-se como abelhas para a flor
o rio mexe os seus galhos escondidos
assusta a noite o poeta versa-dor
são mistérios divinos a rosa cor

pudesse o vento espantar minha saudade
pudesse a noite adormecer os meu destino
veria o mistério divino
viria o mistério divino

corre nuvem nesse céu aturdido
corre para o mistério bandido
atravessa o arco invertido
alcança o mistério mentido...

domingo, 26 de abril de 2009

SONHA

ANDA
NADA

COME
DORME

CÉU
AZUL

NOITE
LIMPA

TARDE
VEM

AMA
ARTE

GERME
ASAS

CELA
MORTE

VOA
VOA

terça-feira, 7 de abril de 2009

una greguería

Todas las estrellas son tres: la luz, el fuego y el movimiento...

segunda-feira, 30 de março de 2009

...

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O fogo desafia a gravidade
a modernidade é uma chama que se apagou
a pólvora queimou o verso queimou
A mão enferrujada mecânica e torta
atravessa o espaço róseo da manhã no céu
a belicidade atingiu o opúsculo
o crepúsculo atrás dos prédios incendiados
atrás das páginas riscadas versos riscados
vamos para as cinzas e de lá nada lembrará




..

Dos Becos

Fria a noite invade meu ser
entretanto não desejo ver o dia
que a noite é onde não estou

lá estou aonde nunca vou
respiro sinto o tempo passar
o Sol virá confundindo a noite
da minha solidão de estranhos ruídos loucos

vou ver o dia nascer
o rio correr a noite voltar
o navio assombrado da alma
a nadar no deserto deixa o meu barco passar
o rio de areia cortar onde vou navegar
deixa o babado rolar.